O que dizem da cultura brasileira

O que dizem da cultura brasileira?

FRANCISCO GOMES DE MATOS, PROFESSOR EMÉRITO DE LINGUÍSTICA DA UFPE
fcardosogomesdematos@gmail.com

Nesta era cada vez mais digital, pessoas amigas residentes no exterior consultam a Internet para aprender mais sobre a cultura brasileira. Outro dia, uma professora de Português radicada nos EEUU sugeriu que eu consultasse a wikiHow sobre como adaptar-se à nossa cultura. Meu engajamento em Comunicação Intercultural me levou a clicar www.wikiHow.com/adapt-to-brazilianculture.

Tive uma agradável surpresa: na seção sobre %u2018Aprendizagem de Português%u2019, aconselha-se: mostre seu respeito pela cultura brasileira, aprendendo, ao menos, português introdutório (tradução minha).Entretanto, esse achado intercultural positivo foi abalado por uma consulta a uma fonte com título atraente: Cultural etiquette around the world (Etiqueta cultural Mundial). Na seção Especially for Women, encontrei essa indignidade comunicativa: “As mulheres brasileiras são muito agressivas, tanto em sua vida comercial quanto pessoal”.

A seção destinada a homens também apresentou generalização mais que chocante: não se surpreenda se estiver em um restaurante ou boate e uma mulher lhe enviar um bilhete em que pede o número de seu telefone. Apesar do notável desenvolvimento da área de estudos de Comunicação Intercultural, percepções como as citadas ainda circulam. Um dos requisitos do saber honrar a cultura brasileira é contribuir para a compreensão, aqui e no exterior, de como manifestamos nossa identidade cultural. Nós o fazemos por meio de percepções, palavras e produtos.

A gente se perguntaria: como percebemos nossas culturas local/nacional e as representamos ao falarmos, escrevermos, usarmos a linguagem de sinais? Como usamos /produzimos bens culturais que elevem o caráter das pessoas? Como ajudamos pessoas de outras culturas a perceberem aspectos complexos de nossa cultura comunicacional, econômica, educacional, empresarial, espiritual, política, tecnológica? Como o “dizem do/sobre o Brasil” pode ser transformado em desafio para nossa dignidade comunicativa? Saibamos honrar nossa identidade cultural, mostrando que somos co-responsáveis pela percepção que se tem lá fora a respeito do que somos e do que fazemos ou deixamos de fazer.